Segredos de vida e morte.
Quando criança, eu tinha dificuldade de acreditar que as pessoas morreriam um dia, sempre achava um saco quando alguém bradava “A única certeza da vida é a morte”. Eu acreditava que a principio todo mundo era imortal, e a gente só tira essa dúvida quando o coração para de bater, “se a gente não morreu ainda, como é que sabemos que vamos morrer? só porque os outros morreram?” Era muito valor dado a possibilidades místicas, porém um pensamento bem instigante de se ter e eu curtia essas coisas. Me achava muito inteligente pensando assim na época, mas hoje me deixa muito inquieto pensar que no período em que a gente vive é como se realmente fossemos imortais, já que o imortal é o que não morre. Imagina? Ser imortal! Literalmente ter um superpoder! Que coisa louca, quero fazer feitiços, viver experiências, comer feijoada com madeira, cacos de vidro, óleo diesel e etc. Essas coisas da infância vivem na gente pra sempre, por isso que não queria ter sido tão bobinho na meninice. Eu também curtia mentir que era médium, e realmente até hoje sinto presenças e coisas do tipo. Mas nunca essas que as pessoas juram de pé junto que tinha algo ali, é sempre uma sensação fraquinha e sem graça, parece que não querem conversar comigo ou não gostam de mim; creio que os mortos me atormentam apenas pela ausência.
Hoje, assim que eu desci do ônibus comecei a pensar qual morte combinaria mais comigo (isto é o que mente vazia e esta cidade fazem com você). Cheguei a conclusão de que vou morrer atropelado por um carro autoescola enquanto atravesso a rua, combina muito comigo uma morte meio burrinha. Tenho certeza de que na hora vou estar andando distraído ouvindo música e assim que eu olhar para o lado irei ver o carro vindo na minha direção e ainda darei uma risadinha quando perceber que é alguém não habilitado. Para a história ficar mais perfeita e mais real (estou crente de que esse é o meu destino), no momento eu vou achar que a culpa foi minha e alguns milissegundos após a risadinha irei fazer uma carinha de quem pede desculpas pelo transtorno. Mas no fim das contas a culpa vai ser do motorista, só que isso eu nunca saberei. Nossa, mas e o cara? Jesus! Vou acabar estragando a vida dele, nem tirou a carteira e já matou um. Não gosto de incomodar ninguém… Estejam certos de que nunca mais irei atravessar a rua se tiver um carro de autoescola na minha direção, mesmo que esteja parado no sinal vermelho.